O JAPÃO SEGUNDO UM BRASILEIRO: SERGIO PEREIRA

ENTREVISTA EXCLUSIVA

Ele é brasileiro, nascido no Rio de Janeiro. Sem ascendência japonesa. Porém, sempre sonhou em visitar o Japão e ver tudo o que gostava com os seus próprios olhos. Você já ouviu essa história em algum lugar antes? Pois é, pode ser que seja a sua história ou que a sua seja bem parecida. Mas ele conseguiu! O sonho de conhecer o Japão de perto foi realizado por mais um brasileiro: Sergio Pereira (33).

Sergio é leitor aqui do blog e um dos membros do Muito Japão no Facebook. Foi lá que começou a trocar ideias e a colher informações de como aproveitar melhor sua ida ao outro lado do mundo. Isso foi há 12 meses. E agora, de volta ao Brasil, ele compartilha com a gente, como foi a sua experiência de ver de perto tudo aquilo que antes fazia parte apenas do seu imaginário e do que conhecia por fotos.

Nesta ENTREVISTA EXCLUSIVA, Sergio nos conta que lugares visitou e de onde gostou mais, como foi sua comunicação no país, enfim, sua primeira impressão que teve do Japão.  Ao longo da entrevista, você confere algumas das fotos que Sergio nos enviou! Confiram a entrevista com Sergio Pereira!



"O Japão é maravilhoso! Não é perfeito, claro, mas tem muita coisa a nos ensinar. E nós sim, temos muito a ensinar também" 




Por que Japão? Sempre gostei da música pop japonesa, principalmente os grupos mais antigos, como Dreams Come True, Southern All Star, etc. Depois, com a vinda dos animes e tokusatsus e a possibilidade de acompanhar as novelas japonesas pela internet, o interesse só foi aumentando.

Já havia estado em outro país? Não, foi minha primeira viagem internacional. Na verdade nem tinha saído muito do meu próprio estado. Viajar é algo novo para mim.

Como e quando surgiu a ideia de ir ao Japão? Sempre achei que uma viagem ao Japão seria extremamente cara e impossível de se fazer "por conta própria", que precisaria de uma agência, excursão, etc. Porém uma amiga foi com o noivo e em seu relato me mostrou que era possível. Utilizei os passos dela como base para a minha própria viagem e fui começando a procurar mais informações. O Muito Japão entrou nessa época.

Chegou em algum momento a desanimar ou achar que nunca iria? Incrivelmente não. Sempre gostei de fazer tudo bem pensado e planejado, e caso houvesse algo que realmente impedisse a viagem, eu simplesmente a adiaria. Como tive muitas pessoas me apoiando, tanto do grupo quanto fora dele, as dúvidas iam sendo sanadas e o caminho cada vez mais claro.

O que te motivou a ir? Justamente o meu interesse pelo país e o apoio dessa amiga que falei e das pessoas que fui conhecendo na internet. Ao contrário do que eu pensava, eu não encontrei nenhum "você é um maluco, isso não vai dar certo", e sim muitos "nossa, que legal, parabéns, desejo tudo de bom, posso te ajudar?". Assim tive muito apoio, que foi me motivando cada vez mais.

Onde gostaria de ir primeiro? E foi? Como foi? Comecei por Quioto, um lugar que realmente sempre quis ir. Foi muito bom, gostei até mais do que Tóquio. É um pouco mais calma, pude conversar com algumas pessoas, fazer amigos. É uma cidade muito bonita e muito bela, e foi uma boa "adaptação" antes da correria de Tóquio. Se alguém pretende fazer Quioto e Tóquio, recomendo que faça Quioto primeiro. É bem interessante a mudança quando você chega a Tóquio, toda gigante com aqueles arranha-céus, vindo da calma Quioto. Você sente melhor a modernidade e você está mais seguro também, por ter estado antes em uma cidade mais tranquila.




O que mais gostou? É difícil essa... rs O que mais gostei realmente foi a capacidade de organização e dedicação dos japoneses. A presteza em lhe ajudar e como cada um cumpre bem seu papel. As coisas realmente funcionam e são bem simples de se compreender e utilizar, como trens e metrôs. É um lugar totalmente diferente, mas ao mesmo tempo é intuitivo, direto e prático de se "pegar o jeito".

Não gostou de algo? Se decepcionou com algo? Não diria "decepção" em nenhum momento. Não tenho nada que possa dizer que era ruim ou que não gostei, acho que por já estar preparado para a maioria das questões "diferentes", mas posso citar que o estilo mais "reservado" de Tóquio me impressionou, achei que seriam mais abertos a comunicação do que em Quioto, mas foi o oposto. Assim, conheci poucas pessoas em Tóquio. Na questão do contato com as pessoas, Quioto foi bem mais espontâneo.

Viu algo que julgou esquisito? O quê? Nossa, tanta coisa (risos). Além da sensação de segurança, sim, ir dormir e deixar as bicicletas sem corrente apoiadas no muro das casas é algo bem esquisito pra mim (risos), sempre tem as comidas, como polvos e "snacks" de peixe inteiros vendidos nas lojas de conveniencia. Aliás, as lojas de conveniência eram a fonte de coisas estranhas. Comprei muita coisa doce achando que era salgada e vice-versa. O fato das pessoas sentarem muito no chão das estações/praças/etc me causou muita estranheza também.



Como foi a comunicação? Você fala japonês? Usou alguma coisa? Não falo japonês, mas sou fluente em inglês, o que ajudou bastante mas não tanto quanto eu imaginava... Poucos japoneses que encontrei falavam inglês, e era um inglês BEM diferente do americano (risos). Logo no primeiro dia em Quioto minha bolsa arrebentou e eu precisava de um alfinete de fralda de bebê para segurar o fecho. Foi uma aventura fazer o rapazinho da loja de conveniencia entender o que eu queria! Ao final, apelamos pro papel e caneta e começamos a jogar "Imagem & Ação" no balcão! O mais divertido foi que, quando ele entendeu o que eu queria, disse que na loja não tinha. Mas ele escreveu (em japonês) o nome do alfinete e me ensinou a falar. Quando cheguei na loja do lado, entreguei o papel para uma senhorinha que achou tão engraçado o turista com a bolsa arrebentada e o papel na mão que não só me vendeu o alfinete como me deu um punhado de balas de cortesia (risos) .. Eu cheguei a baixar uns aplicativos de celular pra tradução, mas ignorei-os totalmente. Parte da graça da viagem era justamente o contato com as pessoas, as mímicas e os contratempos. Eu esqueci dos apps e fui na cara e coragem mesmo. E foi ótimo.

Comeu algo que não tem no Brasil? Além dos vários Kit-Kats, comi sim. Muita carne de porco, udon, ramen... Tem no Brasil, claro, mas eu pessoalmente nunca tinha comido. Gostei muito dos sucos e refrigerantes, são bem diferentes e com sabores muito mais variados.

Que lugar mais gostou e por quê? Arashiyama, em Quioto, pela beleza, calma e conservação. Os jardins são lindos e o tempo parece que não passa naquele lugar. É um lugar que quero voltar com certeza.

Poderia dar uma impressão sua sobre segurança? A melhor possível. Fui literalmente "desarmado" pelo Japão. Minha única preocupação era não perder minha carteira ou documentos, porque de assaltos não tive medo algum. Cheguei em Quioto à meia noite e caminhei tranquilamente pelas ruas até chegar ao hotel. Andava tranquilo em Tóquio mesmo à noite. Muito bom.



Lembra de alguma história engraçada ou gafe que tenha cometido? Além da história do alfinete, geralmente confundia as - poucas - palavras que sabia em japonês. Por mais de uma vez repeti o "irashaimase" (seja bem-vindo) em alto e bom som para os atendentes da loja, fiquei em pé na frente do metrô quando tinha uma fila enorme do lado, além da trágica - e bota trágica nisso - inversão de Kinkakuji com Ginkakuji... Cheguei no templo errado, no último dia em Quioto, e acabei não vendo o templo dourado... Ficou pra uma próxima. Pior que todo mundo que eu encontrei depois perguntava "ohh esteve em Quioto? O Templo de Ouro é lindo não é?".... rss

O que aprendeu com essa viagem? Sua imagem do Japão antes de ir e depois mudou? Mudou muito. Aprendi a gostar ainda mais dessa cultura e desse país. Vi de perto todas as maravilhas e também conheci as partes não tão boas. Conversei com muita gente e procurei não ter o "ar turista" que só vê as coisas boas, através das lentes da câmera. Falei, perguntei, conversei. Procurei apreciar ao máximo as pessoas e sua relação com o lugar. Foi maravilhoso.

Como foi o relacionamento com os japoneses? Foi fácil. São simples e muito prestativos. Apenas duas pessoas foram ríspidas comigo, tenho que admitir, mas todas as outras, de crianças a policiais, senhoras idosas a adolescentes, todos pararam para me ajudar quando pedia. alguns iam comigo até o destino, mesmo que na direção oposta. Os jovens são bem tímidos às vezes, e achei mais fácil conversar com adultos. Todos são muito solícitos. Em um certo templo em Quioto encontrei alguns professores japoneses de uma escola local, que vieram falar comigo e se interessaram pela minha viagem. Pediram aos alunos - um por um - que me cumprimentassem e me desejassem boas vindas ao Japão. Foi um contato muito legal que tive.



Que mensagem daria aos leitores do blog? Imagino que todos tenham vontade de conhecer o Japão, assim como eu tinha, e os que já conhecem desejam voltar.. Pois eu digo que não desanimem e sigam em frente pois vale a pena! Muito! Não é algo fácil nem barato, mas mesmo que consuma 2, 3 anos de planejamento ou mais, não desistam dessa meta. O Japão é maravilhoso! Não é perfeito, claro, mas tem muita coisa a nos ensinar. E nós sim, temos muito a ensinar também. Aproveitem, conversem, sintam o clima do país e principalmente das pessoas. Não se prendam em fotos, paisagens e sushis. O Japão é muito mais que isso. O Japão são os japoneses. Falem, conversem, arrisquem um "oi" ou "bom dia". Pois a viagem é isso, é levar e trazer, é compartilhar. É viver - nem que seja superficialmente e por um pouco de tempo - a vida de um lugar.

Sergio, o Muito Japão agradece sua participação e sua boa vontade em compartilhar com todos nós um pouco dessa experiência magnífica de realizar um grande sonho. Parabéns, acima de tudo, e muito sucesso! 

A seguir, mas algumas fotos enviadas por Sergio!







Comentários

  1. Confesso que esperava tópicos de curiosidades do Japão e não uma entrevista. Fiquei meio frustrado.

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  2. José Gabriel,

    Obrigado pela sua visita e opinião. Lamento não ter frustrado suas expectativas. Mas a intenção era pura e simplesmente ter um parecer simples mesmo de alguém que realizou o sonho de ter ido ao JP com as próprias forças e comentar sobre a viagem em português claro e com olhos bem brasileiros. Talvez conversando com ele, vc tenha mais informações do tipo que busca. Lamento mais uma vez e agradeço a visita ao blog. Gd Abraço.

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  3. Gostei da entrevista, foi bastante objetiva. Apenas senti falta de alguns dados como: Por quanto tempo ele ficou? e é claro, se ele se sentir a vontade em falar, sobre os custos da viagem. Estou planejando em ir, nos próximos 2 ou 3 anos, ao Nihon!
    Parabéns pelo blog!

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  4. Rodrigo,

    Obrigado pela visita e pelo comentário. Peço desculpas pelas faltas com relação ao tempo em que ele permaneceu. Falha minha. Com relação aos gastos, achei que seria algo muito pessoal e por isso, não quis tocar no assunto. Sugiro talvez que você mesmo entre em contato direto com ele e sane esta e qualquer outra dúvida que possa vir a ter e que julgue serem úteis a sua viagem! Boa Sorte!

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  5. Olá!
    Achei muito interessante a entrevista e obrigado ao Blog e ao Sergio por expor como foi sua viagem.

    Contudo, gostaria muito que você pudesse fazer uma entrevista (parte 2) e/ou um complemento ao post para enriquecer a entrevista.
    Existem questões que são pertinentes a viagem que seriam muito interessantes de serem apresentadas para engrandecer a entrevista, e que pelos comentários, nota-se que é uma curiosidade recorrente.
    Por favor, tenho certeza que ele se sentiria feliz em compartilhar essas informações com o pessoal do grupo, se puder repassar as questões abaixo ao Sérgio:
    - De que Estado ele é? Visto que ele diz que nunca tinha viajado, saber de que Estado/Cidade é interessante. Saber se a visão dele já era de cidade grande ou do interior
    - Ele foi sozinho? Não fica claro no texto se foi acompanhado.
    - Quanto tempo ele ficou no Japão?
    - Ele ficou em Hotel, Albergue, Casa alugada, Apt alugado, etc?
    - Ele passou por algum terremoto, tufão?
    - Ele se apresentava como Brasileiro? Como era a reação das pessoas?
    - Ele sentiu mais interesse no turismo, ou nas compras? Acha que é um bom lugar para fazer compras?
    - Ele teve contato com Brasileiros que trabalham lá? Como foi a rececptividade? Ou ideal é não expor a nacionalidade?

    Sucesso Caruso
    Abraço

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